domingo, 7 de dezembro de 2008

Estranho


Estranho como perdi meu solo e minha pátria, como encontrei o exílio.
Estranho como perdi minhas fronteiras.
Estranho como me tornei uma estrangeira para mim mesma.
Estranho... não sei mais o nome da terra que me habita.
Estranho como me tornei uma estrangeira para mim mesma.
Estranho como o azul infinito do horizonte se perdeu para meus olhos.
Estranho como não mais me comove a chuva, ou a beleza da música - que sempre era uma das minhas formas de expressar minha arte.
Estranho como me apartei do mundo, como se tivesse nascido ontem e ainda não soubesse o quanto tudo pode ser vazio.
Estranho quando o vazio da vida se instala e coloca nos olhos uma lâmina fria e cortante; tirando a pureza do olhar que viu sempre o que estava a sua volta com uma imensidão profusa de lindas cores, mesmo nos piores momentos.
Estranho - não estou no pior momento da minha vida - mas esse ser novo que aparece agora, que se instalou em mim, contra minha vontade e tão inaceitável porque tão cinza tudo ficou.
Estou afundada nas minhas profundezas, onde desmoronaram cada um dos meus degraus. Morro, um tanto. Morro e paradoxalmente vivo, mas um viver mais frio, mais gélido, mais denso.
Volto ao começo do mundo, onda a vida ainda era colorida, onde o escuro não permeia os instantes do dia; preciso ver antes desse existir sombrio, não posso viver impregnada disso tudo.
Estranho como não me orgulho mais de mim.
Como dói não ouvir o meu próprio riso.
Estranho como estou oca, cega e distante.
Preciso esquecer de mim, mas escrevo para contar aquela que restou.
Vou voltar, não como era; mas preciso voltar.
Ressuscitar para ser àquela de mim que não deixou morrer a luz azul do horizonte, o brilho dos olhos que amam, dos sonhos que a noite traz!
Vou me eleger nova, outra, livre de tudo; parar e esperar que a lucidez me invada por todas as frestas do meu ser.
Pode ser que assim eu reencontre minha pátria, meu solo e volte do exílio.
Talvez, assim eu me orgulhe novamente de mim!